Mapa da Água foi elaborado com banco de dados do Ministério da Saúde que reúne testes feitos na água tratada pelas empresas e instituições responsáveis pelo abastecimento.
O Mapa da Água revela resultados de testes feitos na água tratada que detectaram substâncias químicas e radioativas que podem oferecer risco à saúde. Destacamos os casos em que o volume dessas substâncias estava acima da concentração máxima permitida, que é quando elas passam a oferecer risco, segundo parâmetros do Ministério da Saúde. Cada país define o seu limite de segurança para a concentração máxima permitida de cada substância na água.
É esse o controle que define a potabilidade da água. As amostras que contém substâncias fora deste padrão são consideradas impróprias para o consumo, da mesma forma como um alimento pode estar fora da validade ou fora dos padrões sanitários.
O Mapa destaca quais municípios tiveram ao menos um teste com substâncias acima do limite permitido no Brasil entre 2018 e 2020. Criamos um “alerta máximo” para os locais onde a mesma substância esteve acima da concentração máxima permitida ao menos uma vez em cada um dos 3 anos . A contaminação contínua é quando os riscos são maiores devido à presença de substâncias químicas e radioativas que podem gerar doenças crônicas, como câncer e problemas endócrinos.
Para chegar a esse retrato, fizemos a leitura dos dados de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, o Sisagua, do Ministério da Saúde. Esse banco de dados reúne os testes feitos pelas instituições responsáveis pelo abastecimento.
A lei brasileira determina que os fornecedores são responsáveis por testar a água e por apresentar os resultados à autoridade de saúde local, o que na prática se dá por meio do registro desses dados no Sisagua. Como esse banco traz informações classificadas em termos técnicos, a reportagem consultou o Ministério da Saúde e especialistas para deixar os dados mais acessíveis ao público não especializado.
A ferramenta foi construída a partir de dados de 2018 a 2020 obtidos em novembro de 2021. Ela não abarca atualizações e retificações feitas desde então. Baixe aqui a base atualizada. As informações do banco utilizado (os dados de controle do Sisagua) são enviadas pelas instituições responsáveis pelo abastecimento de cada região - que podem ser empresas, autarquias ou governos locais.
É importante entender que cada município tem diferentes estações onde a água é tratada. Assim, um resultado acima do limite não significa necessariamente que a água de todo o município tem problemas, mas sim os locais abastecidos por aquela estação. Em termos de alerta para a saúde da população, porém, um local com problema pode afetar pessoas de diferentes partes do mesmo município, já que elas circulam e estão sujeitas a consumir água em diferentes locais.
O mapa traz todos os resultados computados no Sisagua para agrotóxicos, substâncias orgânicas, inorgânicas, parâmetros radioativos e, o grupo que se revelou mais problemático: os subprodutos da desinfecção, que são substâncias indesejáveis geradas a partir do processo de tratamento da água.
São 65 substâncias no total (leia mais sobre elas abaixo, em “Grupos de substâncias”).
Todas as substâncias destacadas pelo Mapa oferecem algum risco à saúde humana se estiverem acima da concentração máxima permitida
Este especial da Repórter Brasil é resultado de um esforço interdisciplinar de pesquisadores, jornalistas de dados, programadores e designers que contou ainda com a valiosa colaboração de especialistas com experiência no banco de dados do Sisagua e na vigilância da qualidade da água (leia mais em “equipe”).
O mapa é uma versão atualizada e revisada de um primeiro mapa publicado em abril de 2019, quando a Repórter Brasil trabalhou em colaboração com a ONG suíça Public Eye e com a Agência Pública. É o resultado de um processo de amadurecimento da versão de 2019, que foi a primeira experiência no Brasil de tradução dos dados do Sisagua para o público não especializado. Essa primeira experiência revelou o grande interesse público sobre a qualidade da água, assim como a demanda por mais transparência ativa na divulgação dos resultados destes testes.
O controle da qualidade da água no Brasil
As empresas de abastecimento são obrigadas, por lei, a fazer testes para monitorar a presença na água de agrotóxicos, parâmetros radioativos, substâncias orgânicas, inorgânicas, subprodutos de desinfecção e as chamadas “substâncias organolépticas” - que geram alterações que podem ser facilmente percebidas pelo sabor, cheiro e cor da água.
É o Ministério da Saúde que define quais substâncias serão monitoradas, de acordo com o risco que oferecem à saúde e a maior probabilidade de estarem na água.
A regulação ocorre por meio de portarias ministeriais, que fixam quais substâncias devem ser testadas e a concentração máxima permitida para cada uma delas na água - o termo técnico é Valor Máximo Permitido ou VMP.
Um teste acima do limite é um sinal de alerta importante que, segundo a portaria, deveria desencadear uma série de ações. Entre elas, a comunicação à população, aumento da frequência de testes e, o mais importante, a busca para reverter o problema.
Cor, odor e sabor
De todas as substâncias que as empresas devem monitorar na água, este Mapa traz os resultados para agrotóxicos, parâmetros radioativos, substâncias orgânicas, inorgânicas e subprodutos da desinfecção: 65 substâncias no total.
Apenas um grupo ficou de fora do Mapa, o das “substâncias organolépticas”. A concentração máxima permitida para essas substâncias determina a concentração em que elas provocam alterações no sabor, cheiro ou cor da água. Assim, é possível que alguns casos de substâncias organolépticas acima do limite não representem risco à saúde. Por isso, nossa equipe decidiu tirar do Mapa todas as substâncias desse grupo.
Desse modo, podemos afirmar que todas as situações acima do limite apontadas no mapa são sinais de alerta para a saúde humana.
Gravidade para a saúde
Para facilitar o entendimento da gravidade dos casos, nossa equipe usou um critério editorial para criar uma divisão entre as substâncias. O Ministério da Saúde não faz distinção de gravidade entre as substâncias que são monitoradas. Após levantar estudos e classificações internacionais das 65 substâncias, nossa equipe criou dois grandes grupos:
As “substâncias com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer” são as que têm maior evidência de risco à saúde. Elas são listadas como “reconhecidamente” ou “provavelmente” cancerígenas, disruptoras endócrinas (que desencadeiam problemas hormonais) ou causadoras de mutação genética.
Como referência, usamos classificações dos órgãos reguladores mais reconhecidos: Organização Mundial da Saúde (International Agency for Research on Cancer), União Europeia, agência ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency) e agências de regulação do Canadá e da Austrália. Todos os estudos e classificações utilizados estão linkados na descrição de cada substância, nas páginas dos municípios.
Esse grupo abarca 37% das substâncias presentes no mapa. As cidades que registraram ao menos 1 teste com substância deste grupo acima do limite de segurança foram destacadas com o vermelho mais escuro no mapa.
Já o segundo grupo “substâncias que geram riscos à saúde” reúne todas as outras que também oferecem risco, segundo a literatura internacional e o Ministério da Saúde. Entre elas estão as "possivelmente" cancerígenas", além das que podem causar doenças renais, cardíacas, respiratórias e alteração no sistema nervoso central e periférico.
O Mapa destaca com um vermelho mais claro as cidades que tiveram ao menos uma detecção acima do limite dessas substâncias. No caso das cidades que tiveram substâncias acima do limite nos dois grupos, prevaleceu a cor do grupo mais grave, o vermelho mais forte.
Sem dados ou com dados inconsistentes
O envio de informações ao Sisagua é obrigatório, mas nem sempre ele acontece. A falta de informações gera um grande vazio no monitoramento da qualidade da água no Brasil.
Mais da metade dos municípios brasileiros têm problemas no envio dos dados à autoridade de saúde responsável. Alguns enviaram poucos dados, menos do que o mínimo obrigatório. Outros sequer enviaram. Não há como saber se, nesses casos, os testes foram feitos e quais são os resultados. Sabemos apenas que as informações não foram registradas no Sisagua.
Há, ainda, casos em que os dados enviados estão com erros. Para o Mapa da Água, foram identificados os resultados inconsistentes a partir de regras elencadas por um técnico especialista em leitura do Sisagua. São situações em que é possível assumir que há erro no preenchimento do resultado da análise, ou que as informações são incompletas para avaliar o atendimento ao valor de referência, tornando o dado não confiável.
O registro de resultado que se enquadra em ao menos uma das situações abaixo foi considerado inconsistente:
Os registros abaixo foram classificados como inconclusivos porque não permitem avaliar se o resultado está acima ou abaixo do Valor Máximo Permitido (VMP):
*Limite de Detecção (LD) é o valor mínimo que o equipamento consegue captar a presença de certa substância na água. Segundo o Ministério da Saúde, “ Menor que LD” significa que a substância está ausente daquela amostra de água ou em concentração inferior àquela que o equipamento consegue detectar.
**Limite de Quantificação ( LQ) é o valor mínimo que o equipamento consegue medir a concentração de certa substância na água. Segundo o Ministério da Saúde, “Menor que LQ” é quando é possível identificar a presença daquela substância, mas não a concentração existente.
***Valor Máximo Permitido (VMP) é a concentração máxima permitida para cada substância na água. Este valor é determinado pelo Ministério da Saúde.
As informações de apoio e manuais sobre o Sisagua estão reunidos neste link.
Dados são de testes realizados pelas empresas de abastecimento e reunidos pelo Ministério da Saúde
Os dados que compõem o mapa são resultados de testes feitos pelas empresas e instituições responsáveis pelo abastecimento. Eles integram a base de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, o Sisagua, do Ministério da Saúde. Os dados foram interpretados de acordo com os parâmetros do Ministério da Saúde.
O mapa divide as substâncias em dois grupos de periculosidade (que determina os tons de vermelho). Essa divisão foi feita pela Repórter Brasil com base nas classificações dadas a cada substância pelos órgãos reguladores mais reconhecidos do mundo, como a OMS.
Veja metodologia completaNota da Redação: após a publicação, algumas empresas e órgãos de abastecimento entraram em contato indicando que cometeram erros ao preencher o Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. Desse modo, declaram que os dados acessados pelo Mapa não correspondem aos resultados dos seus testes. Clique aqui para saber quais. O Mapa da Água usa dados do Sisagua de novembro de 2021, não inclui atualizações ou retificações feitas desde então. Outras mensagens enviadas pelas empresas e órgãos de abastecimento sobre o Mapa da Água podem ser lidas aqui.